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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Cabeça de criança: como aperfeiçoar essa máquina


Para desenvolver a inteligência e outras funções cognitivas, o cérebro precisa ser estimulado desde o nascimento. Saiba como isso pode ser feito com os filhos de zero a sete anos de idade da melhor maneira possível


Independentemente da carga genética, o cérebro humano tem de ser constantemente desafiado pa ra que mantenha e até melhore as suas funções cognitivas (como memória, percepção, raciocínio lógico-matemático, linguagem, atenção, aprendizado...). Mas, como é na infância que se desenvolvem as bases da inteligência, exercitar os neurônios desde cedo é tão importante para a garotada quanto ir à escola, dormir cedo e obedecer aos pais.
Assim que a criança nasce, os estímulos têm de ocorrer da forma mais variada possível. Desde o simples toque no bebê recém-nascido até brincadeiras e atividades mais complexas e desafiadoras a partir dos seis ou sete anos. É através dos estímulos sensoriais que são formadas as chamadas sinapses - conexões que favorecem a comunicação entre os neurônios. Quanto mais sinapses se formarem, melhor serão as capacidades cognitivas e maior será o aprendizado ao longo da vida.
"A capacidade de compreensão dos bebês é muito maior do que a maioria dos pais pode julgar", alerta o neuropediatra Luiz Celso Pereira Vilanova, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Os adultos também não sabem que têm um papel fundamental para o desenvolvimento do cérebro de seus filhos. "Especialmente nos primeiros seis meses de vida, o vínculo afetivo favorece conexões cerebrais do bebê que irão valer para a vida inteira", garante a pediatra Ana Maria de Ulhôa Escobar, do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo.

UMA ALIMENTAÇÃO BALANCEADA E BOAS CONDIÇÕES DE SAÚDE TAMBÉM SÃO ESSENCIAIS PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA COMO UM TODO. A MELHORA DESSES TRÊS FATORES É RESPONSÁVEL PELO AUMENTO DO QUOCIENTE DE INTELIGÊNCIA (QI) VERIFICADO A CADA NOVA GERAÇÃO
PRINCIPAIS ÁREAS DO CÉREBRO ESTIMULADAS

LOBO OCCIPITAL -
Responsável pelo processamento da informação visual. Recebe estímulos de brinquedos e objetos coloridos, ilustrações, videogame e televisão
LOBO PARIETAL - Relacionado às sensações táteis e habilidades matemáticas e espaciais. Estimulado pelas brincadeiras, brinquedos e música
LOBO TEMPORAL - Encarregado do processamento dos sons, da compreensão da linguagem e do gerenciamento da memória. Estimulado pela leitura de histórias, música, instrumentos musicais, brinquedos e pelo aprendizado de idiomas
LOBO FRONTAL - Responsável pelo pensamento, planejamento, comportamento, emoção e movimentos voluntários. Estimulado pela música, leitura, brincadeiras, videogame, movimentos corporais (como a dança)
LOBO TEMPORAL
Além disso, os pais e cuidadores devem estar sempre interagindo com a garotada, brincando e conversando desde os primeiros dias de vida. O toque, por exemplo, estimula a função cerebral responsável pela sensibilidade, a primeira a se desenvolver, assim como a visual e a motora. Para incentivar as funções visuais, a criança precisa manter contato com brinquedos e objetos de cores vivas e contrastantes. As motoras são estimuladas por meio de brincadeiras.
Mas há momentos em que o filho deve soltar a imaginação sozinho. "São oportunidades para desenvolver o pensamento mágico que os adultos não têm", afirma a pediatra Ana Maria de Ulhôa Escobar.
Para o neuropediatra Mauro Muszkat, da Unifesp, os pais devem considerar o gosto da criança pela atividade proposta. "Ela também não pode estar com fo me ou sono, por exemplo. Caso contrário, ficará irritada e o estímulo não irá funcionar", afirma.
Confira, a seguir, algumas formas de estimular o desenvolvimento do cérebro de seus filhos:

SEGUNDO O NEUROPEDIATRA LUIZ CELSO PEREIRA VILANOVA, "QUANTO MELHOR É O NÍVEL EDUCACIONAL DO PAI E DA MÃE (OU DOS CUIDADORES), MAIS ESTIMULADA A CRIANÇA SERÁ"


MÚSICA PARA OS NEURÔNIOS
Esse é um dos estímulos mais importantes para o desenvolvimento da criança, por envolver diversas áreas cerebrais, especialmente nos primeiros dois anos de vida. "Os sons, ritmos e tudo o que envolve o universo musical facilitam a organização visual e de espaço, o entendimento, o raciocínio lógico e a expressão", afirma o neuropediatra Mauro Muszkat.
O especialista alerta, porém, que, recebidos de forma passiva, os impactos da música são relativos. Por isso, é importante incentivar a criança a cantar, dançar e, a partir dos três anos, se ela manifestar interesse, aprender a tocar instrumentos musicais. Os pais devem participar dessas atividades ativamente.
Quanto a que tipo de música incentivar os filhos a ouvir, isso é uma questão pessoal. Mas sem dúvida alguns ritmos são mais saudáveis. A simples audição de música clássica, por exemplo, pode não ser tão relevante ao desenvolvimento e aperfeiçoamento do cérebro infantil, como sugerem alguns estudos, mas certamente ajudará a criança a ser mais tranqüila.


BRINCANDO DE APRENDER

Todo brinquedo - e também brincadeiras que não envolvam objetos -, por mais simples que seja, pode ajudar no desenvolvimento cerebral da criança, inclusive das áreas ligadas à motricidade e à imaginação.
Existem, porém, os chamados brinquedos educativos, que facilitam o aprendizado ao permitirem um tempo maior de retenção da criança na atividade. Esses produtos fazem ainda a garotada agir de forma mais organizada e concentrada.
Cada faixa etária tem seu brinquedo apropriado. Até os dois anos, os estímulos são primordialmente sensoriais. Por isso, chocalhos, brinquedos com sons, cubos, móbiles, carrinhos e brinquedos para encaixar estão entre os mais recomendados. Entre os três e quatro anos, os especialistas recomendam triciclos, brinquedos de montar e desmontar mais complexos, jogos e quebra-cabeças. De quatro a seis anos, brinquedos com várias peças, como cidades, circos e casa de bonecas. E de seis a oito anos, jogos de tabuleiro, carrinhos de corrida, bicicletas, patins e skate, entre outros.

O PODER DOS CONTOS DE FADA
Contar histórias não serve apenas para ajudar a criança a dormir. Essa tarefa, quase que exclusiva dos pais, também tem um grande papel na formação das conexões cerebrais. Algumas pesquisas demonstram que é possível - e o pai e a mãe deveriam - contar histórias para seus filhos ainda na fase de gestação, assim como conversar e cantar.
Mas é preciso que os adultos se envolvam com a atividade, preocupando-se com a entonação da voz ao contar ou ler a história, para prender a atenção do filho. "Isso não pode ser feito de uma maneira mecânica, mas de uma forma lúdica, que envolva a criança e a faça de alguma forma compreender do que se trata o texto - se é um conto triste ou alegre, por exemplo", explica o neuropediatra Luiz Celso Pereira Vilanova.
Assim como o ato de contar histórias ativa a imaginação, a atenção e a audição, bem como ensina certos valores e deveres (especialmente naquele tipo de leitura com a moral da história no final), os livros específicos para bebês, com figuras coloridas, são importantes para ativar as funções visuais.

ESTÍMULOS EM EXCESSO NÃO FARÃO DA CRIANÇA UM GÊNIO, MAS UMA PESSOA ESTRESSADA, COM PROBLEMAS COMO INSÔNIA, DORES DE CABEÇA E FALTA DE APETITE
TECNOLOGIA A FAVOR
O videogame e a televisão podem estimular o desenvolvimento cerebral, sim - desde que o tempo em que esses aparelhos sejam utilizados não seja exagerado. "Em excesso, esses recursos são contraproducentes", adverte o neuropediatra Mauro Muszkat. De acordo com o especialista, o videogame deve ser usado a partir dos seis ou sete anos de idade, quando a criança já controla os seus impulsos e tem a noção de tempo e espaço. Antes dessa idade, esse recurso pode causar ansiedade.

"Os estímulos visuais e motores do videogame são evidentes, mas isso não significa que a criança vai ser mais inteligente. Ouvir histórias, por exemplo, promove um processamento cerebral muito mais amplo, além de ensinar a criança a ouvir e a silenciar", explica Muszkat. Já assistir à TV passivamente não é de todo ruim, mas tem basicamente como único estímulo o visual, por causa das cores. O efeito será melhor se os pais assistirem aos programas (adequados à faixa etária da criança) junto com os filhos e interagirem com eles (comentarem o que estão vendo, conversarem, brincarem, rirem) durante esse passatempo. Esse costume incentiva, entre outras coisas, o poder crítico e de decisão.

OS PRÓS E CONTRAS DE UM NOVO IDIOMA

Os especialistas concordam que o cérebro infantil tem um "espaço" maior para o aprendizado de outros idiomas, principalmente até os sete anos de idade. É por isso que uma criança aprende outras línguas mais facilmente que o adulto. Porém, os médicos se dividem quando o assunto é fazer o filho aprender uma língua estrangeira, quando mal sabe o idioma pátrio.
"A criança pode aprender uma segunda língua até antes dos quatro anos de idade, mas os resultados serão melhores se esse idioma for utilizado em seu meio, como no caso de pais estrangeiros e bilíngües ou diante da necessidade da família viajar para o exterior", recomenda o neuropediatra Mauro Muszkat.
"Esse segundo idioma tem de ter alguma funcionalidade", acrescenta.
A pediatra Ana Maria de Ulhôa Escobar aconselha que a criança aprenda uma nova língua somente a partir dos seis ou sete anos de idade. Na avaliação da especialista, antes dessa idade, quando a criança ainda não sabe direito a língua pátria, um segundo idioma só vai confundi-la e deixá-la estressada.

Fonte: http://revistavivasaude.uol.com.br

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